quarta-feira, 6 de abril de 2011

Amplificadores Valvulados

A diferença entre o som valvulado e o solid state
O verdadeiro motivo pelo qual amplificadores valvulados soam melhor do que seus descendentes solid state é a diferença das características de seus componentes ativos ou seja, válvulas e transistores. Os transistores saturam-se com extrema facilidade e é exatamente por isso que é difícil projetar um amplificador solid state com som limpo, sem distorções.
A válvula satura-se com mais dificuldade e por isso os amplificadores valvulados apresentam um som tão limpo e cristalino. Mas, quando se usa distorção (saturação) é que os solid state ficam ridículos (Em tempo: quando falo de distorção/saturação, refiro-me aos altos volumes e não à utilização de pedais overdrive, ok?).
Os transistores, assim como as válvulas, geram freqüências inexistentes no som original (som da guitarra), além de achatar demasiadamente os picos da forma de onda. Essas freqüências sempre são harmônicos de cada freqüência original e é aí que reside a principal diferença sonora. Os transistores geram harmônicos de todas as ordens e as válvulas geram, apenas, os harmônicos pares. O resultado é uma distorção clara e firme nos amplificadores valvulados e uma distorção "suja" com graves e médios-graves "ocos" nos solid state. Num acorde distorcido nos valvulados notam-se todas as notas; é possível dedilhar deliciosamente e emendar um solo arrasador seguido de uma palhetada delirante nos bordões.
Nos solid state só conseguimos chegar mais ou menos perto disso, com amplificadores extremamente bem projetados, de som limpo, e utilizando overdrives valvulados, mesmo assim obtemos a típica distorção de pré. Outros dois fatores que moldam o timbre dos valvulados é a ressonância da própria válvula que é oca e trabalha com vácuo e o transformador de saída, que não é linear e, portanto introduz modificações no timbre (Os transistores não necessitam de transformadores para acoplarem-se aos alto-falantes, já as válvulas, devido a sua alta impedância de saída, devem ter essa impedância casada com a dos alto-falantes). Isso modifica drasticamente as características originais do sinal da guitarra. Um inconveniente da distorção dos valvulados é que só conseguimos os melhores timbres com altos volumes (você tem vizinhos?) pois as válvulas saturam-se quando estão trabalhando com altos ganhos e isso, nos pentodos ou tetrodos de saída, significa regime de alta potência.
Timbre - Um pouco de história
Quando Leo Fender patenteou seu primeiro captador, estava tentando amplificar o som da guitarra mantendo o timbre do violão que, por si só, tem um volume muito baixo em comparação com instrumentos de sopro e percussão. É fácil deduzir que, para acompanhar as bandas de Jazz que vinham surgindo, era imprescindível amplificar o som do violão com a maior fidelidade possível, já que ninguém conhecia o som de guitarras. A tentativa deu certo ao amplificar o som do violão, mas não deu certo em reproduzir o seu timbre (para chegar mais perto disso só com os problemáticos microfones). Diversas equalizações diferentes nos pré-amplificadores deu origem ao som que conhecemos hoje e que é fácil encontrar em antigas gravações de Blues. O resultado todos conhecemos, pois foi criado um novo timbre, um novo instrumento musical, por assim dizer.
Um instrumento com um timbre que os músicos e ouvintes aprenderam a gostar e muito, tanto que mudou a história da música e hoje é o que se tenta buscar. No final dos anos 50 os guitarristas de rock'n'roll e de blues descobriram que aumentado bastante o volume dos amplificadores obtinha-se um novo timbre, bastante agradável a quem gosta desses ritmos. Frank Marshall, um professor de bateria que possuía sua própria escola em Londres percebeu que copiando os amplificadores de Leo Fender iria ganhar um bom dinheiro, uma vez que estes tinham um preço altíssimo na Inglaterra. Projetou seu primeiro amplificador baseando-se no Fender Bassman 59 e utilizou as válvulas EL34, fabricadas na própria Inglaterra, ao invés das 6L6 ou 6550 dos Fender. Como resultado obteve um amplificador com o qual se obtinha uma distorção diferente e mais pesada, a qual agrada muito até hoje; é o famoso som de Marshall.
Hoje
Chega-se à conclusão que se houvessem meios mais sofisticados, como os de hoje para reproduzir em altos volumes o som do violão, o som da guitarra poderia não ter sido criado. Como são as coisas! Hoje em dia existem verdadeiras legiões de guitarristas que adoram esse antigo timbre das primeiras guitarras e estão sempre à procura de algum efeito que possa reproduzi-los, ou então, utilizando cópias dos antigos amplificadores. Para conseguir isso os projetistas deveriam trabalhar na equalização dos amplificadores. Tanto as válvulas quanto os transistores apresentam dificuldades de projeto para a obtenção de sistemas lineares ao amplificar sinais de áudio, isso significa que, por exemplo, as válvulas podem amplificar mais os graves e médios enquanto os transistores amplificam mais médios e agudos. A tentativa de compensar a falta de linearidade dos componentes faz com que diversos amplificadores apresentem timbres distintos e o timbre é uma característica de agrado bastante pessoal. Justamente as primeiras tentativas de Leo Fender são as que se tentam imitar e, parece-me, a história se repetirá.
Amplificadores Híbridos
Com iniciativa comercial da Marshall, temos hoje diversos amplificadores híbridos (amplificadores que combinam válvulas e transistores, de forma a diminuir o custo de produção). Infelizmente, esses amplificadores utilizam uma única válvula no estágio pré-amplificador (uma 12AX7, normalmente) com alta saturação, e o estágio de potência é transistorizado... Esses amplificadores, apesar de não terem (nem de longe) o timbre de um completamente valvulado, são muito populares pois satisfaz aos guitarristas que nunca tocaram num JCM800 ou similar. Esses amplificadores são a linha ValveState da Marshall. Muitos outros fabricantes já estão fabricando amplificadores desse tipo, como a Crate, a Meteoro (no Brasil), a Fender e outras. Trata-se, no entanto, de aparelhos caros e sem utilidade, uma vez que é possível obter o mesmo efeito com pedais overdrive valvulados e amplificadores transistorizados mais baratos.
A distorção
Existem dois tipos de distorção nos amplificadores valvulados: a de pré e a de power (não trataremos das distorções de transientes nem de crossover nem outros parasitas dos amplificadores, apenas a distorção útil para guitarras). A distorção de pré é obtida com a saturação das válvulas intermediárias do pré-amplificador (Parte do amplificador total que cuida do ajuste do sinal da guitarra para o amplificador de potência e que também cuida dos controles de tonalidade e de overdrive), o som é distorcido com tons de overdrive. É o mesmo som dos pedais de overdrive que utilizam válvulas como elementos ativos. É uma distorção agradável, mas não é a melhor porque não gera o timbre característico dos amplificadores valvulados. A distorção de power é a que se obtém com a saturação das válvulas de saída. Só é utilizável em altos volumes e é uma pena pois não é possível fazer uma gravação direta do amplificador pois, o alto-falante entra na jogada junto com o gabinete e suas ressonâncias e reverberações, pela produção do timbre. É com a distorção de power que obtemos sons como os de Steve Ray Vaughn, Eddy Van Halen, Eric Clapton, para só citar três. Quando você ouve uma gravação de um de seus ídolos e fica imaginando como eles conseguem aquele timbre, saiba que eles utilizam um amplificador valvulado em altos volumes, sem distorção de pré e o som é captado via microfone para as mesas de som, onde são tratados e enviados aos gravadores!!! O ambiente de gravação também influencia e é por isso que shows ao vivo não apresentam os mesmos timbres da gravação original, até mesmo na bateria. Em shows é comum a utilização de amplificadores valvulados como geradores de timbre, sendo que o som captado por microfones passa pelo tratamento de PA e é distribuído para diversos locais, estrategicamente, via amplificadores solid state (quem diria?). Vale destacar aqui cada tipo de válvula de saída apresenta um timbre individual. Assim, temos som de 6L6 (Fenders e a maioria dos amplificadores americanos), som de EL34 (som de Marshall) e som de 6V6 (amplificadores de menor potência) para reduzirmos os exemplos aos 3 principais modelos.
Conclusão
Sem sermos radicais num ou noutro sentido, deduzimos pelo que foi apresentado que não é que os amplificadores valvulados são melhores. Simplesmente gostamos mais de seu timbre. Para isso é plausível suportarmos choques elétricos, zumbidos, instabilidades com as mudanças de temperatura, etc. (Eu, pessoalmente, acho que VALE A PENA!!!)
Então, se você concorda comigo, que gosta do timbre e da distorção dos valvulados, a solução mais econômica é utilizar um... verdadeiro amplificador valvulado! Enquanto existirem fabricantes de válvulas, mesmo os que sobraram (chineses (argh!) e Russos) poderemos ter esses maravilhosos amplificadores à disposição de qualquer guitarrista de bom gosto.

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